quarta-feira, 1 de maio de 2013

Paulicéia Desvairada e o Primeiro Desvairismo


O Primeiro Desvairismo
O desvairismo antropofágico de Mario de Andrade é sarcástico e irônico, mas não mosaico-discordiano como esse "neo-desvairismo" que será idealizado aqui como uma nova forma de expressão, e sua obra Paulicéia Desvairada trazia o seu "desvairismo" cheio de modernismos. Ele não criou uma corrente de pensamento específica, ou uma escola literária nova, nem um movimento de vanguarda novo, embora o mesmo era inspirado em vanguardas européias. O que ele trás de novidade é apenas uma ideia (inspirada na vanguarda dadaísta que ele tira essa ideia) mas Paulicéia Desvairada não fala só de desvairismo e nonsense, fala também dos demais exageros modernos, dando inicio a primeira fase do Modernismo. *Declaro agora que está fundado um novo Desvairismo, o Desvairismo crítico.
Paulicéia Desvairada
Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade, Publicado em 1922. Paulicéia Desvairada, cujo Prefácio Interessantíssimo lança as bases estéticas do Modernismo. Inspirada na análise da cidade de São Paulo e seu provincianismo, a obra marca o rompimento definitivo do autor com todas as estruturas do passado. É do primeiro livro de poemas modernista, cuja "confecção tumultuária" Mário de Andrade descreveria muitos anos depois na famosa conferência de 1942 sobre o movimento que transformaria o panorama das artes no Brasil. Mário de Andrade definiu o livro como “áspero de insulto, gargalhante de ironia”, com “versos de sofrimento e de revolta”.
O Prefácio Interessantíssimo vale como verdadeiro manifesto-programa do Modernismo brasileiro, uma plataforma teórica, que será retomada e aprofundada pelo próprio Mário de Andrade em A escrava que Não é Isaura (1924). É onde expõe suas idéias a respeito de poesia e declara ter fundado o desvairismo.
Nessa poética aberta, há afinidades com a teoria da escrita automática, que os surrealistas pregavam como forma de liberar as zonas noturnas do psiquismo, o ditado do inconsciente. Ao lado dessa entrega lírica às matizes pré-conscientes da linguagem, o Prefácio mostra a admiração da experiência cubista, que, por meio da deformação abstrata, rompe os moldes pseudo­clássicos da arte acadêmica. O “Prefácio” não fica nestas generalidades, há uma descrição dos processos de estilo que conferem à obra a medida de sua modernidade — a teoria da palavra em liberdade, os princípios de colagem (ou montagem) que caracterizavam a pintura de vanguarda na época, a elisão, a parataxe e as rupturas sintáticas como meios correntes na poesia moderna para exprimir o novo ambiente, objetivo e subjetivo, em que vive o homem da grande cidade, a poesia-telegrama, a visão global de uma cidade e sua vida, ironia, versos livres, arcaísmos, coloquialismos, aliterações, rimas complicadas, trechos em língua estrangeira, eruditismo etc.
São visíveis algumas aproximações com vanguardas européias (Dadaísmo, Cubismo, Surrealismo, Futurismo e Expressionismo).
Em termos de construção, de recursos técnicos. Mário de Andrade aproxima a poesia à música, como os simbolistas, adotando da teoria musical as noções de melodia e harmonia. Antecipa as experiências lingüísticas, criando novos termos, recombinando radicais, prefixos, desinências como em "bocejal", "luscofuscolares", "sonambulando".
A obra não tem um roteiro, um enredo. É um livro de poesias. A temática, a musa das poesias, é a cidade de São Paulo, e tudo o que é inerente a cidade.
A linguagem é simples, algo irreverente e coloquial, tendo até mesmo erros propositais de ortografia e gramática. Ela é uma das partes mais importantes da obra, e configura um protesto por si só ao desafiar as correntes então dominantes. Revolucionou a linguagem poética brasileira, pregando o verso livre.
Na obra todos os procedimentos poéticos e arrojados eram expostos e reunidos pela primeira vez, em uma poesia urbana, sintética, fragmentária e anti - romântica, que retratava uma São Paulo concreta, cosmopolita e egoísta com a população heterogênea e a burguesia cínica.
Paulicéia desvairada pode ser lida como um inventário das vivências, percepções e sensações desencadeadas pela modernização de São Paulo, com a qual Mário de Andrade terá uma relação ambígua ao longo de sua obra. A cidade ora é tumba de homens massacrados pelas "monções da ambição", de bandeirantes ou de capitalistas, ora é palco de multicoloridos festejos.

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